quinta-feira, 15 de novembro de 2012

As invasões bárbaras






Dias desses fiquei sabendo de uma notícia que me fez perder o restinho de esperança no futuro da humanidade e do gauchismo. Fui informado pelo meu posto avançado de inteligência nos pampas. E as notícias não são das melhores. A notícia que iria abrir um Mc Donald’s em Bagé.

Um dos últimos redutos do bagualismo gaúcho (no bom sentido é claro) está se rendendo a dita globalização, a pasteurização da cultura, enfim. Me refiro a nossa cultura. Até dá pra aceitar Mc Donald’s em Tóquio, no México, no Afeganistão o pessoal do Taleban comendo um sanduíche com um fuzil e um lança rojão a tiracolo. Mas em Bagé me parece o prenúncio do fim dos tempos. Em outra época seriam corridos a facão.

Bagé já possui um legado americano importante: um pedaço da lua. Tá bom, a lua não é americana. Mas é como se fosse uma colônia. E esse fragmento só está em Bagé por causa da viagem da nave Apolo 17 à lua, em 1972. Um pedaço de rocha foi oferecido a vários países. O então Presidente Médici, bageense, fez com que o souvenir fosse parar na sua terra natal. No passado rumores de venda da tal pedra provocou a ira dos moradores.

Talvez por uma dívida de gratidão aos americanos devido a este legado cultural, os bageenses permitirão que o Mc se instale na cidade. As conseqüências deste novo símbolo americano fincado nos pampas só o tempo dirá. Bagé pode estar abrindo os portões fortificados e recebendo um cavalo de tróia ou entrando definitivamente para a história como uma cidade cosmopolita, terra de todos os povos, um exemplo da tolerância e integração de culturas, onde o nativo das pampas convive em harmonia com a cultura pop americana e judeus e muçulmanos vivem em paz.

Mas outras questões deverão ser levantadas para reflexão nestes novos tempos. Será que vai ter um Big Mac sabor costelão de chão ou vaca atolada? Parece que o drive thru vai ter que sofrer uma remodelação pro gaúcho a cavalo ser atendido. A janelinha vai ter que ser mais alta. Sem falar que vai ter que ter um ponto de reabastecimento pro cavalo beber uma água e tal. Ou um brinde poderia ser oferecido: uma porção de milho pro velho pingo. Meio improvável, pois a cultura mais fraca é que tem que se adaptar. E essa batalha, pelo visto, estamos perdendo.


Na Semana Farroupilha os atendentes da dita lanchonete será que se vestirão de gaúcho e prenda? É mais fácil o gauchão entrar pilchado da espora ao chapéu com barbicacho, de guaiaca e faca atravessada na cintura e sair com um gorrinho comemorativo da casa com o famoso palhaço estampado, o que seria uma cena insólita.

Onde fica o velho pancho ou o famoso xis gaúcho, que deixa saudades e faz lacrimejar os olhos dos conterrâneos distantes, de saudade do sul?  Os Maias estavam certos mesmo. As invasões bárbaras chegaram ao Rio Grande. Nosso império está caindo. No império romano começou assim. Se nem Roma resistiu, imagina Bagé. O Rio Grande nunca mais será o mesmo.

Já imagino a gauchada depois do desfile do dia 20 de setembro, comemoração da Revolução Farroupilha, maior cavalhada do Rio Grande, na Avenida Sete de Setembro:
- Buena gauchada, vamo dá uma parada pra forrá o bucho. Prenda, manda um big Mac bagual , uma super fritas e uma big coke.
- Coca zero, senhor?
- Não te fresqueia, que Coca Zero não é coisa de gaúcho macho. Colonização tem limite, tchê!



(agradeço a colaboração dos conterrâneos A. Atarão e Ellian)